Muitos de nós temos a tendência natural de pensar a história de forma linear, onde o que está no passado não era tão evoluído quanto os tempos de hoje. Muitos autores já escreveram sobre esse conceito de progresso que levaria a uma “evolução natural e inevitável”.No que diz respeito ao sistema penitenciário, muitos sistemas evoluíram, novas técnicas de contenção hoje são utilizadas, mas nenhuma unidade prisional contemporânea pode ser comparada à majestosa Penitenciária do Estado (PE).
A escolha do bairro do Carandiru para a construção da PE atendia a dois requisitos técnicos: distava, relativamente do centro urbano da cidade e estava numa área de baixo valor imobiliário. No entanto, já naquele tempo existiram manifestações de repúdio popular. Ao mesmo tempo o governo se justificava defendendo a tese de que a tranquilidade ambiental favoreceria o processo de recuperação dos sentenciados.
A promoção do projeto ficou a cargo do governo do Estado, ocorrendo em 1909 um concurso público do qual foi vencedor o engenheiro Samuel das Neves. Após a escolha do projeto, os planos e administração da construção foram executados pelo engenheiro-arquiteto Francisco de Paula Ramos de Azevedo, a convite do governo.
Encontramos na história do penitenciarismo paulista, diversas experiências dignas de citação, porém a unidade inaugurada em abril de 1920 pode ser considerada exemplar em diversas áreas técnicas da administração penitenciária.A antiga PE que estaria completando 96 anos foi considerada por muitos pensadores da época, um local onde era possível retribuir ao criminoso o mal causado, prevenir que o condenado e a sociedade procurassem o cometimento de novas condutas criminosas e, sobretudo, ressocializar quem cumpriu a pena. Em seu auge, desde os itens de hotelaria à área de segurança passando pela educação e o trabalho, tudo foi elaborado e executado com maestria.
Segundo afirmava Accacio Nogueira, a PE tinha três finalidades: econômica, social e científica. A primeira de preparação técnica do preso para o trabalho procurava disciplinar a mão de obra induzindo-o a abandonar antigos hábitos e a trabalhar com regularidade. A segunda visava reeduca-lo para uma vida honesta através do trabalho, da educação e da religião. A terceira se destinava à observação e aos estudos criminológicos e psicológicos do preso.
O cumprimento de pena passava pelos seguintes estágios: a reclusão absoluta, diurna e noturna; o isolamento noturno com trabalho coletivo durante o dia, mas em silêncio; o terceiro estágio seria cumprido em penitenciária agrícola, com trabalho extramuros e no quarto estágio seria concedida a liberdade condicional ao sentenciado.
Em 1921 o número de presos recolhidos não passava de 280. Em 1940, havia entre 1200 e 1235, que correspondiam à capacidade máxima do presídio. Na final da década de 1980 foi realizada modificação na estrutura interna da PE e elevou-se para 1800, chegando a atingir a 2600 o número de presos, até sua desativação.
Em 8 de dezembro de 2004 a penitenciária foi totalmente esvaziada de seu contingente masculino, data em que já estavam em andamento as obras de reforma e adaptação para transformar suas edificações em unidade feminina. Inaugurada um ano depois, essa unidade recebeu a denominação de “Penitenciária Feminina Sant’Ana”.