quarta-feira, 20 de abril de 2016

COLUNA MEMÓRIA ORAL

Com: Luiz Carlos Berbare de Souza

Em 1920 foi inaugurada a Penitenciária do Estado de São Paulo, da qual eu tive a honra de ser diretor geral.  Mais de 1.200 celas, mais 85 celas hospitalares e mais 60 celas para atendimento de doentes crônicos.
Inaugurada, a Penitenciária do Estado era um monumento. Em estilo, de radiação, tipo esquema “espinha de peixe”. A galeria central, cada uma com dois raios e três pavilhões. Cada um desses raios tinha cinco pavimentos. Ali hoje está em funcionamento a Penitenciária Feminina de Sant’ana.

 A Penitenciária do Estado deu atendimento durante muito tempo à necessidade. Havia também a Cadeia Pública, a grande Cadeia Pública de São Paulo que era Casa de Detenção na Av. Tiradentes. Posteriormente com a extinção do instituto de modelo de menor de Taubaté foi criada a secção agrícola da Penitenciária do Estado, e, num prolongamento, a Fazenda Modelo.
A secção agrícola instalou-se onde era o instituto modelo de menores, onde é hoje a casa de Custódia. A Fazenda Modelo instalou-se onde é hoje o instituto de reeducação de Tremembé. Passado o tempo a grande reforma e a criação propriamente dita do departamento dos Institutos Penais do Estado em 1954, houve a criação dos Institutos Penais Agrícolas localizados e abrigados onde se instalavam as escolas agrícolas que não tinham mais alunos, em São José do Rio Preto, Bauru e Itapetininga (que teve efêmera vida e foi extinto).
Certa ocasião houve um motim muito grande e a penitenciária teve suas condições de abrigo e de trabalho, destruída em dois terços; esse presídio tinha 1.100 presos, e fui convidado a reorganizar a casa. Logo entendi a dificuldade: onde, de repente, acomodar 1.100 presos? Como fazer para dar abrigo digno a 1.100 presos?
Haviam poucas celas; eram celas individuais; eu tinha celas para abrigar 960 presos.
Então eu estudei através da Secção Penal cada um; o comportamento de cada um; a situação de comando de cada preso e comecei a pôr quatro, três, quatro. Em cada cela, havia só uma cama; embaixo da cama todo dia põe os colchões, à noite estendia os colchões e cada um dormia. Não foi imposição da administração, não tinham alternativa. Eles quebram o presídio então eles vão sofrer as consequências do que eles fizeram. E assim enfrentamos essa crise...