quarta-feira, 29 de novembro de 2017

A HISTÓRIA DA “ANATOMIA DO CRIME”

O médico austríaco Franz Joseph Gall (1758-1828) foi o pioneiro da noção de que diferentes funções mentais são realmente localizadas em diferentes partes do cérebro. Como resultado, ele produziu a Frenologia (de phrenos= mente e logos= estudo), a primeira teoria completa de localizacionismo cerebral, depois considerada de charlatanismo e pseudociência. Gall propôs que a forma externa do crânio reflete a forma interna do cérebro e que o desenvolvimento relativo de seus órgãos causam mudanças na forma do crânio, que então poderia ser usadas para diagnosticar faculdades mentais particulares de um dado indivíduo, ao se fazer a análise adequada. A estrutura lógica e fácil de aprender da teoria frenológica rapidamente capturou a imaginação de milhares de seguidores. A precisão e grau de segurança científica destes termos e mapas fizeram grande progresso no tempo em que os principais inimigos do racionalismo eram a religião, a subjetividade e a autocracia. Contudo, logo a frenologia foi atacada pela ciência oficial, que não pôde corroborar a teoria de Gall com achados concretos.






Anos depois, a Craniologia se tornou influente durante a era Vitoriana (meados do século XIX) e foi usada pelos britânicos para justificar o racismo, a colonização e a dominância de “raças inferiores”. Tipos raciais foram classificados de acordo com o grau de prognatismo (um avanço relativo anterior do maxilar em relação a mandíbula) ou ortognatismo.


A antropometria é também um parente próximo da frenologia. No século XIX, um membro da Sûreté (polícia criminal francesa), chamado Eugene Vidocq, instituiu a documentação das características de criminosos para propósitos de identificação, a qual está em uso até hoje. Um de seus colaboradores, Alphonse Bertillion, expandiu o sistema de modo a tomar várias medidas dos corpos de criminosos, com o objetivo de identificá-los de forma inequívoca (lembre-se que as impressões digitais eram desconhecidas naquele tempo). Entretanto, elas não foram usadas para a avaliação psicológica de criminosos.

Já a Antropologia Criminal surgiu no século XIX, tendo como fundador Cesare Lombroso. Considerada a Certidão de Nascimento da Criminologia, buscou as causas do comportamento criminoso na própria raça, daí o conceito de “criminoso nato”. Ela procura os traços atávicos, ou seja, as marcas primitivas que permanecem no corpo do indivíduo ou em seu caráter (em sua formação moral). Por essa concepção, os indivíduos criminosos são essencialmente diferentes dos demais. Ele pertence à outra categoria de pessoas e deve ser mantido separado, segregado, tratando-se de pessoa perigosa que oferece risco à sociedade. Apesar da teoria estar atualmente superada do ponto de vista científico, a opinião pública e a mídia são constantemente influenciadas por ela, proferindo expressões como: “bandido é bandido e o lugar dele é na cadeia”, “pau que nasce torto, morre torto”, etc.

A vertente contemporânea oriunda desse pensamento é a que trabalha com Inteligência
Artificial para apontar criminosos através de atributos faciais. Um recente estudo da Universidade Shanghai Jiao Tong, na China, que alega que computadores podem determinar se um indivíduo vai se tornar um criminoso baseado em nada além de suas feições. Em um artigo chamado “Inferência automatizada de criminalidade através de imagens de rostos”, dois pesquisadores da Universidade Shanghai Jiao Tong disseram que carregaram “imagens faciais de 1.856 pessoas” em computadores e descobriram “atributos estruturais distintos que identificam traços de criminalidade, como a curvatura labial, a distância entre as córneas internas e o ângulo entre a boca e o nariz”. Os pesquisadores concluíram que “as quatro classificações têm resultados razoavelmente consistentes e confirmam a validade da inferência de criminalidade automatizada baseada nas feições, embora o assunto seja historicamente polêmico”.
Os autores invocam outro argumento para justificar suas principais conclusões; dizem que computadores não podem ser racistas, pois são computadores: diferente de um avaliador/examinador humano, o algoritmo ou classificador do computador não tem nenhuma bagagem subjetiva, emoções ou preconceitos baseados em experiências passadas com etnia, religião, ideologia política, sexo, idade, etc. Não apresenta cansaço mental e não reage a ter dormido ou comido mal. A inferência automatizada de criminalidade elimina por completo a variável da meta-precisão (a competência do avaliador/examinador humano). Além da vantagem da objetividade, algoritmos sofisticados baseados em aprendizado de máquina podem descobrir nuances sutis e elusivas nos atributos e estruturas faciais associadas a traços de personalidade inatos, que passariam despercebidas para um leigo sem treinamento.
E você caro leitor, acredita que é possível detectar um possível criminoso por suas medidas faciais?