quarta-feira, 27 de maio de 2015

COM A PALAVRA O SERVIDOR

ALERTA AOS JOVENS


O mundo penitenciário é marcado por mazelas e por fatos que dão uma visão que só ali acontecem coisas ruins e que todas as pessoas que ali cumprem penas, sem exceção, são despidas de sentimentos e incapazes de atos de solidariedade.
Histórias se repetem, ouvi tantas, uma me marcou profundamente, pois retrata com propriedade a escalada sem volta no mundo do crime; traduz os conselhos de dois presidiários já cumprindo pena há muitos anos, com a intenção de alertar aos jovens quão maléfica é a escalada relacionada às drogas, crimes e consequentemente a prisão.

A HISTÓRIA
Na maioria das vezes o ser humano esquece que, assim como o animal, aceita adestramento; o lixo pode ser reciclado e produzir coisas lindas, a ostra nascer do lodo e gerar pérolas maravilhosas, o homem pode ter seu curso de vida mudado e criar um novo destino.
Alô garoto, oi rapaz, oi jovem, seja você do sexo masculino ou feminino é com você que queremos falar, mas, antes, porém, uma observação: não somos caretas nem tampouco avançados demais; sabemos que se conselho fosse bom, seria ele vendido e não dado.
Não estamos a fim de doutriná-los neste ou naquele conceito de moral ou alguma filosofia seja ela qual for, entrementes você notará logo de início que nosso objetivo neste pequeno conteúdo é adverti-lo, isto mesmo, não existe termo mais apropriado do que este: advertência.
Por favor, não pare de ler este escrito. Ele não veio pousar nas tuas mãos por acaso, o conteúdo aqui contido é tão interessante e tão necessário a você, quanto um copo com água a um perdido no deserto.
Isso, respire fundo e relaxe. A viagem que você estará fazendo agora pelos caminhos desta leitura será muito melhor e mais gratificante do que aquela viagem que você às vezes faz através de droga ou das aventuras perigosas e inconsequentes que são tidas como radicais, mas na verdade na maioria das vezes só traz prejuízo e muitas lamentações.
Quem está passando estes conselhos a você são duas pessoas normais como tantas outras, porém, arrastadas pelas circunstancias dum passado em desalinho que as corrompeu, fez de seu presente uma tortura inevitável, pois o seu mundo se resume num pequeno espaço atrás das grades da prisão.
Exato, quem fala com você são dois presidiários, cumprindo pena na Penitenciaria do Estado de São Paulo.
Você pode ser de qualquer parte do mundo, da zona norte, sul, da periferia, ou mesmo dos jardins, seja você pobre ou rico culto ou ignorante no sentido didático ou profissional, a nossa advertência com certeza servirá como um ponto de referência para que você medite, analise a vida que está vivendo e se não for de equilíbrio e bom senso, mude. Mas mude rápido.
Esse negócio de, “é nóis na fita”, não é apenas frase da moda não, essa frase tem efeito e ele é negativo, é muito fácil entrar no mundo das drogas e do roubo, induzido por pequenos vícios que parecem não ter fundamento. Parecem banalidades, mas, no fundo mesmo, tem o poder de corromper o caráter, principalmente dos jovens em formação como talvez esteja sendo o seu caso agora.
Abra os olhos garoto (a), você tem muitas coisas boas para desfrutar nessa vida, não seja um “embalista” no mundo do crime nem no mundo das drogas.
Seja inteligente, saiba escolher o caminho certo; acatar e seguir as boas orientações de seus pais ou de outras pessoas de bom senso não é caretice não. Pelo contrário, você estará sendo sensato também e com certeza o seu dia a dia será de equilíbrio; você será um vencedor em tudo o que fizer, mesmo que sofrendo algumas dificuldades ou alguma perda, afinal, a vida é assim: é perder ou ganhar. Saiba ser um perdedor ou um vencedor, porém, dentro das normas de cada situação social que você viver é claro, de preferencia que essas situações sejam positivas.
Este escrito foi programado exatamente para você que tem entre 12 e 15 anos de idade e que já se sente dono de si, com todas as letras, mas que na verdade age como um robô, pois é manipulado pelas ondas do momento, ou seja, você é do tipo que está em todas, só que nessas todas que você está, estão também o craque (crack), a marijuana (maconha), a branquinha (cocaína) e outas drogas mais, do trafico, da prostituição e também dos roubos e assaltos.
Enfim, você se sente esperto, dono da situação, você faz o que bem quer, não tem hora para chegar em casa e nem se preocupa com o sofrimento de seus pais e irmãos.
Você dá mais valor e ouvidos aos seus camaradinhas lá da esquina ou lá do barzinho, eles sim, merecem toda a sua atenção, afinal, é com eles que você vive as aventuras mais vibrantes, não é mesmo?
Grande engano camarada, é aí que está o perigo e você nem se toca.
É bem provável que você seja do tipo que costuma dizer: “Ah, eu não quero nem saber quem pintou a Casa Verde, eu quero é ficar muito louco, eu sou muito louco, não tô nem aí com nada; que quero é curtir a vida numa boa fumando umas bombas e cheirando todas as carreirinhas que pintar na minha frente”.
E é assim que você vai se afundando.
O poço do mundo das drogas e da criminalidade tem a boca larga e seu fundo é como um funil, quem entra nele dificilmente consegue voltar, salvo raríssimas exceções.
Não seja tolo.
Já imaginou você dentro de uma cadeia, condenado a vários anos ou mesmo a um, por crime que você poderia bem não ter praticado, ou pelo uso ou trafico de drogas, ou quem sabe por assaltos ou mesmo assassinatos?

Guilherme Silveira Rodrigues
Autor do livro: Código de Cela
Diretor do CDP II de Pinheiros.