segunda-feira, 13 de abril de 2020

Memória Oral


   É com imenso pesar que anunciamos o falecimento deste profissional, tão apaixonado e dedicado pelo que fazia, um grande exemplo de honestidade e lealdade.
   Nesta semana, vamos evidenciar um trecho do depoimento “Memória Oral” do Servidor e Agente Penitenciário Flávio Benassi França, que também fez parte do comitê do MPP.
   Em depoimento nos conta como ingressou no sistema penitenciário e de onde veio o incentivo para isso.



"Meu pai pertenceu ao Sistema Penitenciário Paulista, ele entrou numa época que o sistema era pequeno, a gente contava nos dedos das mãos às unidades que existiam dentro do estado de São Paulo, eram poucas na época.
Conheci a penitenciária quando criança, década de 70, 80 por aí, na época tinha o que? 12, 13 anos mais ou menos.
Às vezes ia trabalhar com meu pai, tinha uma coisa muito interessante naquela época, que no final do ano os detentos criavam um presépio, um tipo de concurso para ver os detentos que se empenhavam mais na criação do presépio e aquilo era aberto para algumas pessoas de fora, então foi aí que eu comecei a conhecer o sistema.
O meu primeiro contato foi a partir desse momento e aquilo chamava a atenção, como é que podia na minha cabeça de criança, um cara preso fazer um trabalho daquele, que era muito bonito, um presépio que possuía movimentos, não era uma coisa estática, chamava atenção, era bonito.
Então aquilo despertou, interesse, então em algumas outras passagens, dizia ao meu pai, 'quero ir trabalhar com você hoje, me leva', aí a gente andava pelas galerias, então era uma coisa que, alimentava ainda mais a minha curiosidade.  Em um certo dia meu pai falou: 'Filho, vai abrir as inscrições pra trabalhar no sistema, você quer fazer?'. Eu achei aquilo interessante por que eu tinha um irmão mais velho, um irmão um pouquinho mais novo do que eu e ele direcionou aquela fala apenas para mim, em um bate papo em um final de semana dentro de casa eu perguntei para ele:
- Mas porque eu?
E ele falou
'Por que você sempre esteve ao meu lado, você me acompanhou em algumas situações dentro da penitenciária'.
E aquilo acabou mexendo comigo, falei: acho que talvez seja uma oportunidade para mim.
E acabei passando no processo, não foi tão difícil, era apenas uma prova escrita na época, uma entrevista com as pessoas responsáveis pelo processo e prova simples de aptidão física. Eu sei que no processo todo, não demorei 40 dias e já era funcionário público, o mais novo guarda de presídio da época.
Aí foi em 1983, onde por final ingressei no Sistema Penitenciário."

Flávio Benassi França

(Trecho do depoimento no Projeto de Memória Oral, 02/08/2012).