sexta-feira, 26 de junho de 2015

COLUNA MEMÓRIA ORAL


EDUARDO VILAS BOAS

Quando eu entrei para trabalhar na Penitenciária do Estado, existia na diretoria de Segurança e
Disciplina um acervo guardado em uma espécie de mini museu. Quando se fala da Penitenciária do Estado, falamos de um Estabelecimento Penal escola, onde se aprendia uma rotina que perdurava de uma geração pra outra. Nesse sentido, a coleção de objetos de apreensão que ficavam nesse mini museu serviam pra informação, pra instrução dos funcionários novos.
Lá nos diziam: isso aqui é um mocó, onde se esconde irregularidades, ou isso aqui é uma marica, etc. E ali na sala de segurança da unidade, todo aquele material do passado que era preservado, e os diretores orientavam dizendo para guardar e separar o material de apreensão, pois tudo aquilo era história daquilo que nós havíamos passado.

Objetos que hoje encontramos no Museu Penitenciário coisas que hoje não existem mais. Por exemplo, lembro-me que antigamente os Guardas de Presídio usavam um chapéu keep com brasão. Então, quando agente se depara hoje com o keep no novo museu, bonito e organizado para realmente mostrar essa história, isso nos dá orgulho, pois serve garantir a nossa memória.
Com isso, podemos mostrar para a sociedade coisas que estão no dia a dia do trabalho da execução penal, objetos e símbolos que fazem parte da cultura prisional que temos contato diariamente e que muitas vezes a sociedade não conhece.
Sobre cultura prisional, eu me recordo que durante meu curso superior, em um dos professores solicitou um trabalho sobre analise de símbolos. O que uma simbologia representava para um determinado grupo e a sociedade em geral não conhecia. Meus colegas ficaram “batendo cabeça”, procurando alguma coisa, mas eu imediatamente lembrei-me do livro “Código de Cela”, do Guilherme Silveira Rodrigues.
Assim escrevi um trabalho sobre tatuagens de prisão e foi algo totalmente inovador. Nesse trabalho pude falar de coisas como, por exemplo, a tatuagem da imagem de Nossa Senhora da Aparecida, que é uma tatuagem ligada ao catolicismo, porém, dentro da cultura prisional, existia a crença que o individuo tatuado com ela tinha um poder quase mágico, servindo como uma proteção.
Com isso quero dizer que existe outra linguagem dentro da cultura prisional, e hoje a perspectiva dessa cultura encontra-se exposta na sede do Museu Penitenciário.
E é gratificante saber que o sistema prisional paulista possui um órgão que pode nos servir como uma ferramenta garantidora da nossa história, que apresenta para sociedade a vida, a cultura de dentro do cárcere que tem aspectos próprios, quase como uma sociedade paralela.
Então, nesse aspecto, a importância do museu, é enorme.

Eduardo Vilas Boas
Diretor Técnico III do CPP de Franco da Rocha